Sou caicoense, já fui compulsiva por
açúcar e continuo amante das iguarias seridoenses. Basta que eu diga minha
naturalidade para ouvir “queijo de manteiga”, “carne de sol”, “filhós com mel”.
Estas são comidas que me encantam pelo sabor, pela história e pelas lembranças.
Não sei bem se por isso, resolvi tornar-me nutricionista, o que não foi – nem
deixou de ser – assim tão simples. Na Universidade, logo e principalmente de
início, me deparei com um saber enfadonho, interessado em conhecimentos
técnicos e meramente biologicistas que desconsideravam toda a magia, para mim
indissociável, dos alimentos. Também foi na graduação que me deparei com um
conhecimento humanístico que me foi apresentado por professoras maravilhosas
que me ensinaram que os alimentos não são unicamente formados por nutrientes e
o ato de alimentar-se não se resume à bioquímica e à fisiologia. Muito devo também
à literatura. Virginia Wolf, em Um teto
todo seu, já nos lembra: “Sendo a estrutura humana o que é, coração, corpo
e cérebro misturados, e não contidos em compartimentos separados, um bom jantar
é de grande importância para uma boa conversa. Não se pode pensar bem, amar
bem, dormir bem, quando não se jantou bem”.
É
a partir desta forma de arte que sou levada por caminhos reflexivos muito
férteis acerca da alimentação e dos nossos hábitos alimentares. É um dos modos que
encontrei para tentar compreender algo tão complexo quanto a alimentação. É a partir
dela que eu enxergo as diferenças entre as culturas, as relações afetivas em
torno dos alimentos, os problemas alimentares, etc.
Com Nina Horta, Clarice Lispector, Isabel
Allende, Mário de Andrade, Kafka, Balzac e tantos outros escritores aprendi que
os aspectos culturais e sociais da alimentação, tão importantes para a formação
do nutricionista, podem ser compreendidos de uma forma mais saborosa. Este blog
é “para ler e para comer”, uma forma de compartilhar as reflexões que tenho a
partir do que leio, do que cozinho e do que penso.
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